2011-03-14

APRENDER A VER DEUS TAL COMO É


Domingo II - Quaresma


O Evangelho da transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização da humanidade. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, “em particular, a um alto monte” (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da graça de Deus: “Este é o meu filho muito amado: n’ Ele pus todo o meu enlevo. Escutai-o” (v.5). É o convite a distanciar-se  dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (Heb 4,12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

E é este o comentário do Papa a este evangelho do 2ª domingo da Quaresma, como o apresentou na sua mensagem para a Quaresma.

A mim, o que me impressiona em Jesus neste acontecimento da Quaresma é a sua delicada psicologia e pedagogia para com os apóstolos, completamente incapazes de compreender Jesus e o seu plano de salvação, e fechados na sua incapacidade de compreender. A eles, Jesus abre a visão do que Ele é realmente, apesar de que a realidade seja uma realidade do mesmo Jesus opaca e que só com muito custo e sobretudo alicerçada na fé se pode descobrir o que ela esconde mais do que ela revela.

E, quando esta divindade em Jesus se revela, os três só sabem prostrar-se cheios de medo diante do que se lhe aparece. Sim, como Moisés no monte Sinai.

Por isso, dum lado os apóstolos me revelam a minha fraqueza de fé incapaz de pensar e ainda menos de actuar ao nível do plano de Deus. Ontem como hoje. isto tudo aparece bem evidente quando acho difícil começar o dia com o cântico do Benedictus e fechá-lo com o outro cântico do Magnificat, porque não consegui ver a divindade da salvação que, ao longo do meu dia, fez mais uma etapa no caminho dos céus novos e terra nova, e pelo contrário me fecho na lógica ou da filantropia ou do “nada de novo debaixo do sol”. E é neste sentido que é o meu rosto a revelar a minha realidade sem que ninguém me pergunte as novidades. Eu mesmo sinto que o meu rosto não é brilhante e cheio de luz como o de Moisés. E sinto como um trabalho pesado o de falar da divindade de Jesus e dos filhos de Deus, quando eu mesmo estou na incapacidade de explicar em mim as maravilhas que Deus fez. Porque a minha fé fraqueja. E é a altura em que então Ele me convida a subir com Ele, apesar de nem saber como encontrar tempo para isso. Mas sei que o que Ele fez com os apóstolos, Ele mesmo há-de encontrar maneira de o fazer comigo.

Põe-me mais dificuldades a grande experiência da transfiguração de Jesus frente aos seus  Pedro, Tiago e João. Porque penso que aos três, como a mim, é proposta a grande conversão onde é vedado brincar aos ídolos: não sou eu que construo Deus à minha imagem e semelhança, mas é Deus que me se manifesta e me diz quem ele é e quem eu sou. Eu estou convencido que a minha vida é sempre um compromisso com Deus, onde estou interessado em Deus, mas como alguém de quem eu disponho. Sei que, naquele momento em que ele se mostrar aos meus olhos tal como Ele é, me tornarei como Paulo na sua peregrinação para Damasco, sei que me sentirei absolutamente cego porque os meus caminhos não são os dele. Me vai muito bem ser protagonista de números e de programas, numa palavra da pastoral à minha imagem e semelhança. E tenho medo de encontrar-me com o rosto no chão como os três, a tremer, porque naquele momento aparecerá na verdade toda a minha realidade e a de Deus. Tenho medo que Ele me ajude a ser quem eu sou na realidade deixando de ser o palhaço que desejo ser apesar da verdade.

Por isso te peço, Senhor, estende-me a tua mão, neste tempo de Quaresma, leva-me contigo e manifesta-te aos meus olhos de cego, para que por ti, contigo e em ti saiba viver e, a seguir, fazer-te conhecer aos outros.


Autoria deste texto:
Missionários Combonianos, Carapira

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