2011-10-23

AMARÁS O SENHOR TEU DEUS... E AO PRÓXIMO

Domingo XXX - Tempo Comum

Esta passagem do evangelho me recorda muitas outras passagens da sagrada escritura onde Jesus apresenta o caminho da perfeição do homem não com exigências superiores às suas forças e capacidade de entendimento, mas sim, com as realidades que estão ao alcance de todos. Cristo nos manifesta este amor, estando junto do Pai, vem ao encontro do homem caído no mistério do pecado. Cada ser humano tem diante de si este caminho a percorrer. O que implica saída do que é fácil e natural, para entrar na dinâmica das exigências do Reino, reconhecendo a grandeza de Deus manifestada nas suas obras, especialmente na redenção da humanidade e ser solidário para com os irmãos. Na verdade, estas duas máximas de Jesus estão bem interligadas e resumem toda a lei, tudo o que faz parte do agir humano.
Quando o homem aposta nesse amor coerente acontece o Pentecostes em cada coração e na própria Igreja, como nas primeiras comunidades cristãs, onde os apóstolos cheios de espírito Santo, abriram as portas do coração e foram ao encontro dos irmãos, comunicaram com firmeza as maravilhas de Deus, e juntaram-se a eles grande número de homens e mulheres, porque as palavras e a vida desses homens eram um testemunho verdadeiro do amor a Deus e aos Irmãos.


Autoria deste texto:
Missionárias do Espírito Santo, Itoculo

2011-09-01

Domingo XXIII - Tempo Comum

A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros

A primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projectos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam.
A palavra de Deus anunciada, acreditada, posta em prática, faz nascer o povo de Deus, a Igreja de Deus. e cada membro deste povo, é, por sua vez anunciador, profeta, desta palavra de Deus. Por isso há-de anunciá-la com as suas palavras, se o puder fazer, mas sempre com a sua vida. Deste modo, cada filho da Igreja, é, ao mesmo tempo, construtor da Igreja.
Salmo 94(95)
O salmista convida cada um de nós, a louvar a Deus, o Rochedo que salva e dá segurança, exortando também a uma contínua fidelidade à sua palavra.

Segunda leitura: Rom.13, 8-10
Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada.Toda a lei moral crista, toda a lei de Deus se resume na caridade que é o amor segundo Deus.Todos e cada um dos preceitos cristãos são aplicações concretas desta lei da caridade, que os envolve e os anima a todos.

Evangelho: Mt. 18, 15-20
O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correcto para atingir esse objectivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
Esta passagem do Evangelho, nos exorta ainda a termos em vista a vida em Cristo, e a sabermos viver e resolver os problemas à luz de Deus e da Caridade.


Autoria deste texto:
Irmãs Religiosas do Sagrado Coração de Maria, Nacala

2011-07-24

A ALEGRIA DA OPÇÃO PELO REINO

Domingo XVII - Tempo Comum

1ª Leitura 1Reis 3,5.7-12
A primeira leitura nos apresenta o diálogo que Deus faz com Salomão um diálogo que dá alegria e esperança, um Deus amigo, um Deus muito perto das pessoas, um Deus que sempre toma por primeiro a iniciativa de ir ao encontro das pessoas. Ele está sempre perto de nós, mas de nós quer fidelidade.
Salomão faz esta experiência de Deus, por isso não se preocupa de si, mas do povo ao qual foi posto como chefe e guia. Ele experimenta a sua incapacidade e a sua pequenez de levar a frente a tarefa confiada e Deus que conhece os corações lhe dá o dom da inteligência e sabedoria para governar o povo que ele escolheu para sua herança.
Ainda hoje Deus se compromete connosco, esperando a nossa resposta “Eis que estou a porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”. E será festa!
Com Deus no coração haverá festas, pois ele está presente, partilhando as nossas alegrias e os nossos sofrimentos.


 2ª Leitura Rom 8,28-30
Nesta leitura encontramos o resumo, da 1ª e do Salmo. Confirma como deveríamos ser nós cristãos: “sede santos porque eu o vosso Deus sou Santo”. se na verdade acreditássemos neste Jesus que nos ama mais do que todos não haveria lugar para tristeza e lentidão no nosso coração.
Amadas/os, escolhidas/os, predestinadas/os, por Deus “para sermos conforme a imagem do seu filho a grande amizade de Deus para as suas criaturas! Deus quer que sintamos e experimentemos a verdadeira irmandade com Jesus seu filho! Parece loucura! em quanto é o seu grande Amor para connosco, um Amor sem comparação nem limites.
“Deus amou de tal modo o Mundo de dar o seu próprio filho” qual é nossa resposta? 

 Evangelho de Mt 11,25
Num Mundo que nos atrai por caminhos fáceis, Jesus nos apresenta o novo sentido do discipulado, se apresenta como o Tesouro escondido, como pérola preciosa de descobrir e encontrar cada dia, numa descoberta sempre nova, por isso nos chama à radicalidade. É a urgência de Deus que se contrapõe à nossa lentidão de começar a caminhada, às vezes árdua e dura mas que abre as portas ao Reino.
Este Reino presente no meio de nós, mas que não sentimos dentro de nos pois nos falta a alegria de pertença a um Deus que nos ama e a Jesus Cristo que nos ensinou o caminho do amor. O Camponês encontrou o tesouro, o negociante a pérola, mas não param, tomam as suas a decisões e assumem as consequências a decisão é definitiva, “vender tudo” para comprar o campo e possuir a pérola.
A decisão é tomada sem meia medida, é algo que “Vale a pena” e é algo que nos fará sentir felizes!
A alegria que experimentamos é o ponto de partida para começar a ser “criatura nova” possuída por Jesus Cristo, e o Reino se faz presente!
É curiosa a perguntas de Jesus aos seus ouvintes “ Entenderam tudo isso?” a resposta foi “sim”: afirmativa. Para mim foi e é sempre uma pergunta que me faz reflectir, pois o Escriba é o mestre que deve ter em si a sabedoria de Deus, transmitir a palavra, para que os outros a possam entender, tudo isso não é fácil, pois somos frágeis, mas é na nossa franqueza que Deus actua em nós, fazendo-nos experimentar a alegria do Dom recebido em Jesus Cristo.
É preciso uma escolha radical e decisiva que oriente toda a nossa vida, com a esperança de poder possuir o verdadeiro Tesouro Jesus Cristo.

CONCLUSÃO
O verdadeiro discípulo é aquele que descobre o tesouro do Reino e se compromete com ele.
Como Salomão, peçamos ao senhor sabedoria, alegria e entusiasmo. E que o Espírito Santo nos guie e acompanhe na fidelidade a Deus em Jesus.


Autoria deste texto:
Irmãs Combonianas, Nacala

2011-07-14

A PACIÊNCIA DE DEUS

Domingo XVI - Tempo Comum

O encadeamento dos textos deste XVI domingo nos é iluminado pela 2ª leitura, quando São Paulo nos anima a confiar no auxílio certo do Senhor que vem a nós que somos fracos. Na oração devemos deixar espaço para Deus, pois Ele nos envia o Espírito Santo e  Ele sabe bem o que precisamos para vivermos neste mundo onde convive o bem e o mal.

O livro da Sabedoria vem nos confirmar que o nosso Deus é bom. Não é a força, a violência que o nosso Deus usa para com aquele que peca, mas o perdão, a misericórdia, a indulgência. Somos filhos deste Deus e quando pecamos, se nos arrependemos, Ele nos acolhe num abraço eterno de bondade.

Somente a vontade de viver no espírito e deixar-se conduzir por Ele é que vai nos ajudar a caminhar no seguimento do Senhor. Ele nos conhece e não usa  da força, usa da misericórdia.  Mas o dia do juízo virá e neste dia o Senhor fará a ceifa. Ele tem paciência connosco. Podemos ser este trigo que cresce no meio do joio, esta pequena semente de mostarda, a medida de fermento que leveda toda a massa. Com a Sua graça podemos ser fiéis, pois Ele é fiel.

Confiemos no Senhor que não nos abandona e é Pai Nosso, e Ele nos livrará dos nossos inimigos e das tentações. Amém



Autoria deste texto:
Filhas da caridade, Nacala

2011-07-06

SAIU A SEMEAR

Domingo XV - Tempo Comum

É surpreendente meditar na atitude pedagógica que Jesus nos apresenta no evangelho de hoje. “Saiu de casa” disponibilizou-Se para ir ao encontro de… e “sentou-Se à beira-mar” parece ser o primeiro a chegar, esperou… Teve a iniciativa de provocar o encontro, foi tão grande a multidão! “Sentou-Se no barco” - na cultura Macua as coisas sérias são tratadas quando todos estão sentados - a conversa era amigável e séria, repete com insistência: “escutai, quem tem ouvidos que oiça, muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Vós portanto escutai o que significa a palavra do semeador.” A catequese naquele dia abordava a experiência dum povo, que perdura até aos nossos dias e que tece a vida do nosso povo aqui e agora.

“Saiu o semeador a semear.” Este é um dos maiores desafios para nós missionários. Jesus, o semeador por excelência, não seleccionou a multidão mas deu inicio à sementeira, lançou a semente que caiu em diversos terrenos. A quem dirigimos a nossa evangelização? Contudo sentimos que o protagonismo não está no semeador mas na semente/a Palavra de Deus, cuja eficácia está assegurada, embora também submetida à nossa liberdade de a aceitar, rejeitar ou asfixiar. Essa é a nossa responsabilidade, a nossa grandeza e a nossa miséria.

O bom terreno é o que ouve a palavra e a compreende, a assimila e permite que ela seja vida na sua vida e o seu fruto seja uma vida impregnada de Deus e das suas obras. “Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem!” 


Autoria deste texto:
Missionárias do Espírito Santo, Itoculo
 

2011-06-19

COMO MATTUWA

Domingo da Santíssima Trindade

Após a festa de Pentecostes, em que os discípulos receberam o sopro do Espírito Santo simbilozado pela língua do fogo e fez com que eles expandissem a Boa Nova de Jesus ressuscitado a toda multidão em várias línguas, hoje celebramos a festa da Santíssima Trindade. O mistério da Santíssima Trindade é o centro da nossa fé e da vida cristã, que não se pode entender pela intelegência mas que é acreditado pelos olhos da fé.

É um só Deus em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo que se forma na base do Amor profundo e infinito. O Pai enviou Seu filho, Jesus Cristo, para salvar a humanidade, que se estragou pelos pecados. O Espirito Santo continua a manter a missão de Jesus no mundo segundo a vontade do Pai. Nesta fase, o que podemos dizer é que a Santíssima Trindade é o símbolo da comunhão perfeita e o ideal da comunidade cristã baseada no Amor. Pois Deus é amor (Muluku mpentho). Para entendermos melhor podemos servir-nos da linguagem cultural macua: podemos exprimir o sentido prático desta SS. Trindade como três pedras inseparáveis na cozinha que suportam a panela para que a comida seja cozida pelo fogo (mattuwa). A comunhão da SS. Trindade é representada culturalmente pelas três pedras (mattuwa) que trabalham unidas e ao mesmo tempo, colaborando umas com as outras a fim de alcançar o objectivo principal. Isto é: a salvação universal da humanidade. O amor é algo fundamental que basea e segura esta união da SS. Trindade. Este amor é Deus que se manifestou na morte de Jesus. A Sua morte insere o homem no mistério de Deus: Ele dá a vida porque ama; a morte de Jesus é consequência desse amor.

O evangelho de hoje nos faz ver não só que Deus caminha com o Seu povo e perdoa os seus pecados, mas mostra-nos que Deus supera e vence todos os limites próprios da condição humana, como a morte. Deus ama a todos, e o mundo. Este mundo pode significar toda a humanidade, capaz de aceitar ou rejeitar o Amor de Deus. Porém, olhando para a realidade do povo, de facto, o amor de Deus é muitas vezes recusado devido aos pecados humanos existentes na comunidade cristã e na sociedade: os divórcios na familia cristã, a violência doméstica que está a acontecer onde mulheres e crianças são vítimas disso. As alunas deixam a escola porque ficam grávidas, a corrupção que está a matar o povo simples. Se as fenómenos sociais são assim,  a pergunta é: onde está o amor de Deus? Será que ainda tem lugar para ele? Ou ainda existe o amor de Deus na família, na escola, na cultura e na política?

A chave para reflectir e resolver estes factos é voltar para a SS. Trindade que indica o Amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estes três personagem unem-se numa comunhão inseparável. Com amor, a comunhão humana recupera os problemas familiares e sociais. Como mattuwa mantem o fogo acesso e junta as forças do fogo para dar calor e cozer bem a comida, assim também, a comunhão da SS. Trindade nos mostra o Espírito do amor, da reconciliação, da opção pelo povo simples e marginalizado e espírito de ajuda fraterna que realmente nos possa ajudar a viver segundo a Sua vontade.


Autoria deste texto:
Missionários do Verbo Divino, Monapo

2011-05-13

O BOM PASTOR

Domingo IV - Páscoa

As leituras do 4º Domingo do Tempo Pascal apresentam a experiência pessoal de Jesus com o Pai. Ele reconhece intimamente o amor do seu Pai e transmitiu-o à humanidade, como diz o Evangelho de São João 10,7: “Eu sou a porta das ovelhas”. Dizer que Jesus é a porta é o mesmo que dizer que é ele a única alternativa. Ele é o modelo de Bom Pastor. Na minha vida, na vida da comunidade, na vida da Igreja e na vida da sociedade, Ele não busca os seus interesses mas, pelo contrário, ele dá a sua própria vida para a salvação  de todos.

O Bom Pastor é aquele que conhece melhor cada uma das suas ovelhas, que  conhece a condição humana, que mostra o verdadeiro caminho às suas ovelhas, que tem coração de escuta, que tem um coração aberto e hospitaleiro, que tem coragem de falar a verdade no meio de inverdade. O bom pastor é aquele que cria um relacionamento recíproco, aquele que tem coração misericordioso e compassivo, para que todos tenham vida, e a tenham em abundância. Reflectindo no que está escrito em cima,  sentimo-nos encorajados e desafiados a ser bons pastores no nosso meio. Porém, as sombras do egoísmo desafiam-nos, impedem a generosidade para servir os nossos irmãos, e também nos sentimos fracos com estas limitações, e pedimos a nosso Senhor Jesus Cristo as graças da liberdade e da abertura para  podermos alcançar o projecto de Deus.


Autoria deste texto:
Irmãs Servas do Espirito Santo, Monapo

2011-04-29

VEIO TESTEMUNHAR SUA RESSURREIÇÃO

Domingo II - Páscoa

As leituras deste domingo são importantes para a nossa vida cristã. A primeira leitura nos ensina a importância de estarmos unidos na fé, na caridade até à comunhão de bens. A segunda leitura nos anima a crescer na fé, na esperança viva para uma herança que não se corrompe, apesar das provações que sempre nos acompanham. Como aconteceu com Jesus, também para nós, da morte surgirá a vida.

No Evangelho, Jesus volta a aparecer no meio dos seus discípulos e leva-os a acreditar nele mostrando-lhes as mãos, os pés e o lado. São sinais da sua paixão e morte. E agora da sua ressurreição. Tudo isto se passa oito dias depois da sua ressurreição. Isto acontece para nós cada domingo e nos faz reavivar a fé de que um dia iremos participar na vida eterna com Jesus.

Vemos o grande amor de Jesus. Ele como Filho de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, aceitou morrer na cruz. Mas ressuscitou e veio testemunhar a sua ressurreição animando os discípulos e a nós, hoje. Vale a pena ser testemunho do amor de Deus, que nos diz que mesmo morrendo na cruz ressuscitaremos para a vida eterna.

Perguntas para reflexão:
  1. Escutamos o exemplo dos primeiros cristãos. Como deve ser a nossa vida hoje?
  2. Escutando a segunda leitura, o que cada um de nós pensa?
  3. E no Evangelho, o que sentimos ao escutarmos a revelação do grande amor de Deus? O que vamos fazer?

Autoria deste texto:
Servas do Espírito Santo, Liupo

2011-04-06

O SENHOR DA VIDA NÃO ME ABANDONA

Domingo V - Quaresma


Estamos já no quinto domingo da Quaresma, o chamado domingo da VIDA.
Este centra-se em CRISTO, "RESSURREIÇÃO E VIDA"  e apresenta-nos, como desafio da nossa Fé, a responsabilidade consciente dos nossos compromissos baptismais, pelos quais nos unimos intrinsecamente a Cristo, que nos alcança a graça da vida eterna.

Cristo  é "Caminho, Verdade e Vida" e aquele que acreditar n'Ele viverá para sempre.
Um outro aspecto interessante, que merece a nossa reflexão, é  a insistência  da acção do Espírito vivificante tanto na primeira leitura como na segunda. Este mesmo Espírito que, no acto da criação do mundo, deu vida aos demais seres criados, vivificou mediante o sopro divino o primeiro homem criado humildemente com o barro, isto é, com o pó da terra.

Portanto, é com a força do  mesmo Espírito que hoje o Senhor quer  abrir e actuar sobre os túmulos do nosso coração, endurecido pela nossa enfraquecida maneira de nos relacionarmos com Ele e com o Próximo.

Deus nunca nos abandona. Mas, quantas vezes como Marta e Maria, repetimos: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Quem se terá afastado do outro!? O Senhor de mim? Ele que tomou a iniciativa de ir ao encontro de Marta e Maria, hoje não fará o mesmo comigo, contigo? 

Reconheçamos, como diz o salmo 129 (130), que é de facto no Senhor e unicamente Nele que está a Plenitude da Redenção. Acreditemos Nele e isso nos bastará, confiemos-lhe os nossos pesos, as nossas fraquezas,  nossos projectos pastorais e a nossa vontade de crescer na fé e no testemunho de uma vida de harmonia, Justiça e Paz. Porque, o nosso Deus é: Vida em abundância, Misericordioso, Paz, Bem, Sumo Bem!


Autoria deste texto:
Irmãs Concepcionistas ao Serviço  dos Pobres, Nacuxa

2011-03-28

JESUS CRISTO BRILHARÁ SOBRE TI

Domingo IV - Quaresma

I Sam 16,1b.6-710-13ª ; Salmo 22(23),1-3ª.3b-4.5.6(R1); Ef5,8-14 ;Jo9,1-41

As leituras de este Domingo têm como núcleo central a Luz.
Nos introduzem na Mensagem do Papa Bento XVI para esta Quaresma e nos dão um apoio para uma vivência mais radical do nosso Baptismo, uma das prioridades pastorais da Diocese : “Com a Força do Espírito profetas da reconciliação e da paz”.

A 1ª Leitura, na unção de David como Rei de Israel, nos lembra como também nós fomos ungidos pelo sinal do óleo no nosso Baptismo. Deus olha o íntimo, não as aparências como nós. Quando escolhe a pessoa, a enche de Seu Espírito e é pela força e inspiração desse mesmo Espírito que ela responde.
David era ainda pequeno mas não resistiu a ser ungido, confiou em Quem o escolhera mesmo que, humanamente falando, não fosse prudente nem previsível ser escolhido. Nos ensina que devemos deixar Deus actuar em nós e nos outros, porque talvez não estejamos a ver como os mais idóneos.  

No baptismo, pela unção somos constituídos Sacerdotes, profetas e reis, para estabelecer as obras da luz na Sociedade: A Bondade, Justiça e Verdade são frutos da Luz como nos diz S. Paulo na carta aos Efésios. E condenar com força as obras das trevas a começar por mim próprio; obras de escuridão que sepultamos na Morte de Jesus Cristo e com Ele saímos à Luz duma nova vida. Cristo brilhará sobre ti ( Ef 5, 14.).

No Salmo 22 podemos orar com o Salmista essa confiança que depositamos em Deus quando lhe dizemos que com Ele nada nos faltará. Ele há de saciar-me em seus verdes prados, estamos seguros  na sua companhia, sem temores nos dias de escuridão, de fortes ventos e de tempestades.   

O Evangelho S. João nos propõe na sua Catequese a oferta de Jesus para todos os homens: A Luz para caminhar na vida. Luz que é Ele mesmo. O cego de nascença somos nós antes do Baptismo. Ele utiliza o nosso barro,  que, em Suas mãos, tem poder de dar a vista. Para aqueles que se fecham em não acreditar, todo lhe é escândalo. Pequenas acções que não estão no seu coração soberbo e rigorista são utilizadas como armas para escurecer as obras da luz. Como ao cego, Jesus nos deixa espaço para fazer a nossa confissão de fé: Eu creio Senhor (Jo 9, 41).


Autoria deste texto
Irmãs Pilarinas, Nacala

2011-03-14

APRENDER A VER DEUS TAL COMO É


Domingo II - Quaresma


O Evangelho da transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização da humanidade. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, “em particular, a um alto monte” (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da graça de Deus: “Este é o meu filho muito amado: n’ Ele pus todo o meu enlevo. Escutai-o” (v.5). É o convite a distanciar-se  dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (Heb 4,12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

E é este o comentário do Papa a este evangelho do 2ª domingo da Quaresma, como o apresentou na sua mensagem para a Quaresma.

A mim, o que me impressiona em Jesus neste acontecimento da Quaresma é a sua delicada psicologia e pedagogia para com os apóstolos, completamente incapazes de compreender Jesus e o seu plano de salvação, e fechados na sua incapacidade de compreender. A eles, Jesus abre a visão do que Ele é realmente, apesar de que a realidade seja uma realidade do mesmo Jesus opaca e que só com muito custo e sobretudo alicerçada na fé se pode descobrir o que ela esconde mais do que ela revela.

E, quando esta divindade em Jesus se revela, os três só sabem prostrar-se cheios de medo diante do que se lhe aparece. Sim, como Moisés no monte Sinai.

Por isso, dum lado os apóstolos me revelam a minha fraqueza de fé incapaz de pensar e ainda menos de actuar ao nível do plano de Deus. Ontem como hoje. isto tudo aparece bem evidente quando acho difícil começar o dia com o cântico do Benedictus e fechá-lo com o outro cântico do Magnificat, porque não consegui ver a divindade da salvação que, ao longo do meu dia, fez mais uma etapa no caminho dos céus novos e terra nova, e pelo contrário me fecho na lógica ou da filantropia ou do “nada de novo debaixo do sol”. E é neste sentido que é o meu rosto a revelar a minha realidade sem que ninguém me pergunte as novidades. Eu mesmo sinto que o meu rosto não é brilhante e cheio de luz como o de Moisés. E sinto como um trabalho pesado o de falar da divindade de Jesus e dos filhos de Deus, quando eu mesmo estou na incapacidade de explicar em mim as maravilhas que Deus fez. Porque a minha fé fraqueja. E é a altura em que então Ele me convida a subir com Ele, apesar de nem saber como encontrar tempo para isso. Mas sei que o que Ele fez com os apóstolos, Ele mesmo há-de encontrar maneira de o fazer comigo.

Põe-me mais dificuldades a grande experiência da transfiguração de Jesus frente aos seus  Pedro, Tiago e João. Porque penso que aos três, como a mim, é proposta a grande conversão onde é vedado brincar aos ídolos: não sou eu que construo Deus à minha imagem e semelhança, mas é Deus que me se manifesta e me diz quem ele é e quem eu sou. Eu estou convencido que a minha vida é sempre um compromisso com Deus, onde estou interessado em Deus, mas como alguém de quem eu disponho. Sei que, naquele momento em que ele se mostrar aos meus olhos tal como Ele é, me tornarei como Paulo na sua peregrinação para Damasco, sei que me sentirei absolutamente cego porque os meus caminhos não são os dele. Me vai muito bem ser protagonista de números e de programas, numa palavra da pastoral à minha imagem e semelhança. E tenho medo de encontrar-me com o rosto no chão como os três, a tremer, porque naquele momento aparecerá na verdade toda a minha realidade e a de Deus. Tenho medo que Ele me ajude a ser quem eu sou na realidade deixando de ser o palhaço que desejo ser apesar da verdade.

Por isso te peço, Senhor, estende-me a tua mão, neste tempo de Quaresma, leva-me contigo e manifesta-te aos meus olhos de cego, para que por ti, contigo e em ti saiba viver e, a seguir, fazer-te conhecer aos outros.


Autoria deste texto:
Missionários Combonianos, Carapira

2011-03-10

O NOSSO DEUS É UM DEUS COMPASSIVO!


Domingo I - Quaresma

A Liturgia da Palavra deste 1º Domingo da Quaresma nos convida a reflectir sobre a fraqueza do homem e a grande misericórdia do nosso Deus.
           
Desde as origens, o homem criado à imagem e semelhança de Deus, carrega uma forte tentação de domínio e poder. Tentado pelas forças do mal, sucumbe e perde sua consciência moral, deixa-se levar pelo instinto do poder, desobedece a Deus, implica os outros e não se reconhece culpado. Adão e Eva nos recordam nossa fraqueza humana e principalmente a grandeza do Amor de Deus.

São Paulo na carta aos Romanos vem nos lembrar que, se em nossos primeiros pais perdemos as bênçãos de Deus, em Jesus Cristo a graça de Deus nos foi dada em abundância. Jesus, o novo Adão, vem trazer a todo homem o dom inefável do perdão, da misericórdia, da filiação divina.

Neste Evangelho compreendemos bem que a missão do Filho  é dar a  Vida e como  Filho de Deus aceita o sofrimento de 40 dias para forjar o Seu espírito e enfrentar com sucesso as forças do mal. Nós estamos no mundo e continuamente somos colocados à prova pelos poderes e reinados que esta sociedade constroi. ¨Nem só de pão vive o homem…¨

Que o Senhor Jesus, com a força do Seu Espírito nos anime a fortalecer nossa fé através da oração, do jejum e do serviço, para que forjados da força do bem enfrentemos  com confiança  e sem temor o espírito do mal que nos cerca e nos tenta.

¨Adorarás o Senhor Teu Deus e só a Ele prestarás culto¨


autoria deste texto:
Filhas da Caridade, Nacala

2011-02-23

A SEGURANÇA DO ABANDONO EM DEUS


Domingo VIII – ano A

 
As leituras deste domingo vêm iluminar a nossa vida, pondo a descoberto a realidade da inquietação à qual se contrapõe a confiança em Deus.

A inquietação tira de nós a paz e a alegria; ela põe no nosso coração uma cortina que não nos permite ver toda a beleza e o positivo da vida, nos fecha como a um passarinho na gaiola do raciocínio humano, que é tão limitado como a gaiola e ficamos lá dentro presos sem poder sair.

Deus conhece muito bem a raiz desta nossa doença: “a inquietação”, e ele não quer ficar a saber disto sozinho, mas por meio da sua Palavra quer partilhar connosco a sua sabedoria para nos ajudar a conhecermos a nossa própria realidade, onde e porque é que nós ficamos atrapalhados nas nossas preocupações. Ele também nos propõe caminhos e meios para nossa libertação.

Sendo que a causa das nossas inseguranças está no facto de nós procurarmos segurança fora de Deus, na primeira leitura do profeta Isaías Deus nos desafia a um abandono total e confiado: “Ainda que a mãe esquecesse o filho das suas entranhas eu não te esquecerei”.

São Paulo, na carta aos Coríntios fala-nos da sua própria experiência: ele não quer dar-se ao trabalho de se julgar a si próprio, nem se preocupa por ser julgado pelos outros, porque ao confiar tudo nas mãos do Senhor ele se libertou da angústia de pensar “o que dirão”.

E Jesus no evangelho vem nos dizer que o coração dividido nunca estará satisfeito nem livre. Só aquele que se decide e entrega completamente a Deus encontrou a verdadeira segurança e liberdade e, com isto, tudo o que é preciso para se realizar como pessoa e como filho do pai que está no céu.


Autoria deste texto:
Pequenas Irmãs de Maria, Mueria

2011-02-20

NÃO RESPONDER COM VIOLÊNCIA


Domingo VII - ano A


Depois de uma breve oração, lemos o texto pela primeira vez. As frases que nos tocaram foram: “sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” e “amai os vossos inimigos”. Voltamos a ler o texto pela segundo vez e depois dum silêncio partilhamos.

Só Deus nosso Pai é perfeito. Para nós a perfeição é um ideal. O mais que fazemos é ser justos uns com os outros. Sabemos que na realidade do povo é difícil tratar cada pessoa igual, especialmente os vientes, os que vêm de fora. Eles sofrem discriminação dos outros membros da comunidade e às vezes não podem integrar-se bem.

Nestes “novos” mandamentos de Jesus podemos lembrar o que ele disse no início, “Não vim revogá-los (a Lei e os Profetas), mas levá-los à perfeição” (Mt 5,17). Jesus estava devolvendo à Lei o seu sentido original, de conduzirmos ao encontro com Deus nos irmãos. Obviamente as Leis estavam provocando uma divisão ou até conflito nas comunidades do povo de Deus no tempo de Jesus. Quem obedecia a Lei era “puro” e quem não obedecia era “impuro”.

“Amar o teu próximo e odiar o teu inimigo” neste contexto era normal, até bom. Assim a pessoa identificava-se com o seu grupo. Era muito claro quem era o próximo: os da mesma família, mesma tribo, mesma raça. Os inimigos eram os de fora. Amar o próximo neste contexto foi uma boa medida para manter a solidariedade e comunhão dentro do grupo.

“Olho por olho e dente por dente” pode ser uma maneira de manter este equilíbrio dentro do grupo. A vontade de vingar uma ofensa pode levar o ofendido a exagerar e aumentar a violência. Esta lei pode servir muito bem para controlar a violência e criar um ambiente de respeito mútuo.

Jesus viu que isso não era suficiente para seguir a vontade do Pai. Criar um povo com relações de amor, de perdão e de paz não se faz num dia. Jesus tinha que mostrar um novo e mais profundo caminho. Ele mesmo praticou estes “novo mandamentos” até entregar a sua própria vida por nós.

E os primeiros cristãos que seguiram Jesus fizeram comunidades na base deste mesmo “novo mandamento” do amor. Podemos imaginar os conflitos que isso levantou com o outros judeus da mesma sinagoga. A hostilidade e até violência que os cristãos sofreram pelos seus próprios irmãos levou-os a pôr em prática o que Jesus ensinou. Eles não responderam ao mau com nem o menor nível de violência. Ao contrário, eles amavam os seus inimigos.

Isto é um exemplo de como manter uma verdadeira justiça dentro da comunidade. O seu amor pelos inimigos seguramente levou alguns destes mesmos inimigos a converter-se a Cristo e seguir como membros da comunidade.

Isto também, é uma maneira de viver a reconciliação. As diferenças de cultura, de nível social, de raça, etc. criam tensões.  O desejo de viver na unidade apesar da diversidade leva a procurar maneiras de reconciliar-se.

Vemos esta dificuldade na realidade das comunidades hoje. A rivalidade entre culturas, religiões, partidos, línguas, níveis sociais, etc. pode levar a actos de violência. A tentação de vingar é muito forte e pode levar o ofendido a responder com um nível de violência mais elevado.

Por outro lado, há uma característica do povo de perdoar os inimigos, especialmente quando o mau cometido é fora do sério. Quando alguém sofre um roubo, por exemplo uma mamã que perdeu todos os seus produtos da machamba por ladrões que chegaram de noite, podemos ouvir, “estou agradecido”. É uma maneira de reconhecer que somos pequenos nos olhos de Deus, que somos todos irmãos, que a justiça vem de Deus.

Como religiosos tentamos viver em comunidade e ser exemplo para a comunidade cristã. Não é fácil pôr em prática esta “novo lei” de Jesus. Amar com quem vivemos todos os dias nos pode levar a pensar se estas pessoas são os meus próximos ou meus inimigos. De qualquer maneira amamos com quem fazemos comunidade. Queremos viver a comunhão na diversidade.

Assim como Deus é uma comunidade perfeita de três pessoas distintas, nós também queremos seguir este caminho da perfeição.


autoria deste texto:
Missionários do Verbo Divino, Monapo

2011-02-12

SIMPLIFICA, CORTA, APROFUNDA, AMA


Domingo VI – ano A


Talvez possamos resumir as leituras deste domingo em três palavras apenas:

1. “Simplifica!”: Não é preciso fazer grandes estudos para compreendermos o que Deus nos quer dizer. Ou melhor, é preciso abdicarmos da sabedoria deste mundo, da sabedoria dos príncipes deste mundo, para nos tornarmos capazes de compreender a sabedoria de Deus (Cor. 1, 2). Todas as vírgulas e minúsculos acentos da lei judaica e todos os mandamentos da santa Igreja querem simplesmente tornar-nos mais próximos de Deus, do Deus da vida. E esta vida está ao nosso alcance, depende da nossa vontade (Sir. 15, 16). Só isso.

2. “Aprofunda!”: O pecado não é apenas o seu desfecho. É um processo, vai-se desenvolvendo aos poucos. Há que nos conhecermos em profundidade. Porque sabemos que a tentação se apresenta por vezes de uma maneira muito subtil… basta uma palavra ou um olhar inicial para nos lançarmos num caminho que levará à morte do irmão ou ao desmoronamento da nossa própria integridade e dignidade de filhos de Deus: “Eu, porém, digo-vos: quem chamar imbecil a seu irmão…” (Mt. 5, 22); “Eu, porém, digo-vos: todo aquele que olhar para uma mulher… (Mt. 5, 28)”

3. “Corta”: Se queremos aproximar-nos de Deus não o podemos fazer a meias. Temos que fazê-lo com toda a nossa vontade, com resolução e máxima definição. Não basta cumprir a lei. Devemos ser honestos connosco mesmos. Sim, Sim; não, não. A falta de resolução no compromisso com Deus e com a lei que ele inscreveu no mais íntimo do nosso coração, torna-nos tíbios, invertebrados. Quando Jesus nos diz que é preciso arrancar olhos e cortar braços (Mt. 5, 29-30) está a convidar-nos a sair da apatia e da moleza que tantas vezes tolhem a nossa capacidade de ir mais longe no Amor.

Por fim, uma última palavra, mais um imperativo: “Ama!”. Como toda a lei se resume no amor, que é o verdadeiro sacrifício que o Senhor realmente nos pede, podemos concluir com essa máxima: “ama, e faz o que quiseres!”


autoria deste texto:
missionários do Espírito Santo, Itoculo

2011-02-01

SAL: HUMILDE, FUNDIDO, SABOROSO

Domingo V - ano A

Dando seguimento ao evangelho do domingo anterior, hoje Jesus quer nos mostrar a identidade do seu discípulo. “Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se tornar insosso, com que o salgarão?... Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Também não se acende uma lâmpada para a pôr debaixo do alqueire, mas no candelabro para que ilumine todos os que estão na casa. Brilhe assim a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” Cf   (Mc 4,21; Lc 8, 16ss).

Aqui Jesus explica detalhadamente a identidade e o empenho do seu seguidor e quais são as obras que glorificarão Deus. Como o próprio Cristo, o seu discípulo deve ser sal da terra, luz do mundo e cidade visível no alto de um monte (lembremos aqui a cidade de Jerusalém, situada sobre o monte Sião). Estas três imagens convergem numa direcção: testemunho pessoal da vida cristã ao serviço dos outros.


E se falar do sal: ele é um elemento familiar em qualquer cultura usado para dar sabor à comida. Antes da era moderna ele era o único meio de preservar da corrupção os alimentos, particularmente a carne. Mas na cultura bíblica, o sal significa também sabedoria da vida, que consiste em conhecer e cumprir a vontade de Deus, expressa na sua lei. O cristão sendo o sal da terra, deve possuir a sabedoria de Cristo e o conhecimento do reino de Deus pela fé na palavra do evangelho.

O sal se torna então um símbolo importante para centrar a missão do discípulo de Cristo na sociedade em que vivemos. O sal por si mesmo tem um papel importante na arte culinária, ele se dissolve por completo nos alimentos e desaparece dando um sabor agradável. A sua presença discreta quase não é percebida; porém, a sua ausência não se pode dissimular. Essa é a sua condição: passar despercebido, mas actuando eficazmente.

Eis a obrigação do cristão: ser sal da terra, sal humilde, fundido, saboroso, que actua de dentro, que não se nota, mas que é indispensável. Feliz responsabilidade a nossa: descobrir o rosto autêntico e a face oculta de Deus, ser o sal e o sabor da vida, ser graça festiva, ser esperança e optimismo para o tédio e o aborrecimento da existência. Sublime tarefa do cristão: espalhar sem ostentação a riqueza de uma vida cristã interior fecunda e ao serviço dos outros. Assim cada um de nós deve perguntar-se como podemos hoje colaborar e em que medida temos de oferecer os talentos recebidos de Deus a um mundo que precisa desesperadamente das nossas “boas obras”, como o sal e a luz, para conhecer e bendizer a Deus, o Pai de todos que está no céu.

Não podemos perder o sabor e a luminosidade cristã diluindo-os em palavreado, ou em meras práticas piedosas. Se as pessoas virem a nossa fé religiosa e a nossa conduta para a fraternidade e o amor, reconhecer-nos-ão como portadores da luz de Cristo e glorificarão o Pai. Como o sal e a luz, a nossa fé e condição cristã não admitem meios-termos: ou transformam e iluminam a vida, ou não servem para nada.

Transforma, Senhor, as nossas trevas em luz                                                
A nossa noite em dia, para que irradiemos alegria e paz
Esperança e optimismo no meio do tédio da vida.

Que a tua palavra seja luz no nosso caminhar.
Ajuda-nos com a tua graça e transforma-nos com o teu Espírito
Para que não guardemos para nós o teu sal e a tua luz. Amem!

Autoria deste texto:
Irmãs Missionárias do Espírito Santo, Itoculo

2011-01-22

ENVIAI, SENHOR, A VOSSA LUZ


Domingo III - ano A
Quando ainda temos na alma o bom sabor do tempo de Natal, no qual celebramos o admirável acontecimento da chegada do Emanuel, a liturgia continua a nos acompanhar com um tema de grande beleza e importância na espiritualidade cristã: a luz. O senhor é a minha Luz e salvação, faz-nos cantar o salmista.
O profeta Isaías, que tem por missão especial consolar o povo eleito, lhe dirige, da parte do Senhor, uma mensagem de esperança, de consolação. O povo que estava a sofrer por muito tempo sob a opressão da Assíria e não só, por causa da sua posição geográfica, vai ser libertado das trevas da dor e da escravidão pela vinda do Messias prometido.
Esta passagem é citada por S. Mateus para anunciar que de facto a profecia estava a cumprir-se na pessoa de Jesus, o Nazareno, que começava a realizar sua missão de ungido do Senhor, irradiando luz e aliviando as doenças físicas e espirituais deste povo assentado nas trevas. Jesus se auto proclamou como a Luz do Mundo, e prometeu a quem o seguisse com sinceridade, que estaria longe das trevas e teria sempre a luz da vida e a alegria da verdade.
O sofrimento do povo de ontem volta a repetir-se hoje; as trevas continuam a envolver os homens: guerras, ódios, injustiças, doenças, fome e muitos tipos de escravidão, fruto do afastamento da Luz, fruto do pecado. O messias veio para iluminar e curar integralmente a humanidade inteira. Mas essa cura que gera alegria, paz, consolação tem uma exigência no Reino anunciado por Jesus Cristo: A conversão do coração: Convertei-vos porque esta próximo o reino de Deus.
Para o discípulo de Cristo a verdadeira luz começa a brilhar no baptismo, que por sua vez lhe exige um compromisso; ser testemunha, ser luz que alumie o caminho dos outros sem excepção. São Paulo lembra aos cristãos de Corinto sua identidade: Vós irmãos não andais nas trevas; todos sois filhos da luz e filhos do dia. Como membro da Igreja o cristão, segundo o mesmo S. Paulo, dará o melhor testemunho evangelizador conservando a unidade, evitando a divisão. Só assim a comunidade cristã se converte em lâmpada que ilumina as trevas do mundo e atrai para o reino de Cristo os que ainda não o conhecem ou dele um dia se afastaram.
O Papa João Paulo II nos seus ensinamentos insistiu muitas vezes na importância de cultivar na Igreja a “espiritualidade da comunhão”. E Bento XVI colocou como tema da sua mensagem para a Jornada das missões 2010: “ A comunhão eclesial é a chave da missão”. Nós cristãos seremos tanto mais luz para o mundo quando mais unidos estivermos entre nós, obedecendo ao Mandamento Novo do Senhor, que na mesma noite rezou ao Pai por nós: que todos sejam um.
O Mestre pede hoje a nossa colaboração, como a pediu aos primeiros discípulos nas margens do lago da Galileia. Eles eram habitantes daquela mesma terra sofredora, conheciam na própria pele a dor do povo. Hoje o chamamento divino dirige-se a outros Pedros, outros Tiagos e outros Andrés, que estejam a sentir dalguma maneira a angústia da gente, para se converterem em consoladores, portadores de luz, de alegria e vida. O mundo está à espera... que bom se conseguisse-mos fazer realidade mais uma vez a profecia de Isaías, o anúncio gozoso de Mateus. Que este nosso mundo que caminha muitas vezes nas trevas visse através de nós, discípulos de Cristo, a verdadeira luz.
Que possamos dizer a todo aquele que procura consolação e esperança: “Confia no Senhor, sê forte, tem coragem e confia no Senhor”. E para que isto seja uma realidade, precisamos de rezar com o salmista: Enviai, Senhor a vossa luz e verdade, sejam elas o meu guia e me conduzam...

autoria deste texto:
Irmãs Pilarinas, Nacala

2011-01-16

SER SERVO, SER LUZ

Domingo II - ano A 

 
«O Senhor me formou desde o seio materno, para fazer de mim o Seu servo, a fim de reconduzir Jacob e reunir Israel junto d’Ele». Não só reunir as tribos de Jacob, mas sim toda a humanidade: «Não basta que sejas meu servo para restaurares as tribos de Jacob… Vou fazer de ti a Luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».
 
Servo’ e ‘Luz’: são duas palavras que nos acompanham desde o domingo do Baptismo de Jesus e iluminam a nossa vida e a dos crentes. A quem se referem?
 
Na Bíblia encontramos muitos ‘servos’ de Jahvé: Moisés o servo do Senhor, os profetas, servos da Palavra e outros… Aqui é Israel, o povo escolhido por Deus, que é chamado não só a se deixar reunir junto dEle, mas também é chamado a ser Luz das nações. E é também o profeta Isaías. Mas Isaías vê ao longe o Messias. Todos aqueles servos são figuras do grande Servo de Jahvé, Jesus o Filho de Deus, o qual será realmente ‘LUZ das nações’, Luz plena, que não precisa de outras luzes e fará com que a Salvação chegue aos confins da terra. Jesus, responde à chamada paterna através de uma obediência incondicional, como um servo bom e fiel, ‘atento à mão da sua senhora’, que culminou com a morte na cruz. Deu a vida em fidelidade ao Seu Senhor. A partir da cruz a Luz se irradia pelo mundo.
 
Os cristãos, que Paulo, na 2ª Leitura, chama com o nome de ‘santos’ (santificados em Cristo Jesus) são os homens e as mulheres que também hoje são chamados a serem ‘Luz’ da sociedade em que vivem, como os Coríntios, através da sua fé e do seu testemunho de vida. São as comunidades cristãs que não se contentam em viver bem sozinhas, mas preocupam-se pelos que vivem à margem da salvação, que ainda não foram iluminados por Cristo. Cada um de nós é chamado a ser ‘servo’ também, através da sua vida feita da escuta da Palavra, a qual move o seu trabalho, motiva a sua missão.
 
No Evangelho ouvimos João Baptista dizer que não conhecia de antemão Jesus. Foi pouco a pouco que o Senhor lho revelou. A seguir Ele indicou aos que o rodeavam o Cordeiro de Deus. João não se colocara no centro, teve a coragem de indicar um outro, aquele que vinha depois dele, maior do que ele… É Jesus o centro… A missão de João está a ser cumprida: reconhece que: “Ele existia antes de mim”. Não tem medo de confessar que não conhecia Jesus e faz de tudo para que Jesus se manifeste ao povo. Também João é ‘servo de Jahvé’: o seu serviço foi de fazer com que Jesus se manifestasse. Temos muito que aprender da atitude de humildade de João …
 
‘Eu vi e dou testemunho’. Cristãos e discípulos de Jesus, religiosos e missionários, somos  chamados por Deus, a sermos testemunhas de que ‘Ele é o filho de Deus’. De fazer com que a Luz ilumine realmente todos, não haja mais nenhuma barreira de ódio, de violência, de injustiça que impeça à Luz de entrar no coração de cada homem, de cada mulher, até aos confins do mundo, a fim de que se realize aquele plano de Deus revelado por Isaías: ‘para que a minha Salvação chegue até aos confins da terra’.


Autoria deste texto:
Irmãs Combonianas, Carapira