2011-02-23

A SEGURANÇA DO ABANDONO EM DEUS


Domingo VIII – ano A

 
As leituras deste domingo vêm iluminar a nossa vida, pondo a descoberto a realidade da inquietação à qual se contrapõe a confiança em Deus.

A inquietação tira de nós a paz e a alegria; ela põe no nosso coração uma cortina que não nos permite ver toda a beleza e o positivo da vida, nos fecha como a um passarinho na gaiola do raciocínio humano, que é tão limitado como a gaiola e ficamos lá dentro presos sem poder sair.

Deus conhece muito bem a raiz desta nossa doença: “a inquietação”, e ele não quer ficar a saber disto sozinho, mas por meio da sua Palavra quer partilhar connosco a sua sabedoria para nos ajudar a conhecermos a nossa própria realidade, onde e porque é que nós ficamos atrapalhados nas nossas preocupações. Ele também nos propõe caminhos e meios para nossa libertação.

Sendo que a causa das nossas inseguranças está no facto de nós procurarmos segurança fora de Deus, na primeira leitura do profeta Isaías Deus nos desafia a um abandono total e confiado: “Ainda que a mãe esquecesse o filho das suas entranhas eu não te esquecerei”.

São Paulo, na carta aos Coríntios fala-nos da sua própria experiência: ele não quer dar-se ao trabalho de se julgar a si próprio, nem se preocupa por ser julgado pelos outros, porque ao confiar tudo nas mãos do Senhor ele se libertou da angústia de pensar “o que dirão”.

E Jesus no evangelho vem nos dizer que o coração dividido nunca estará satisfeito nem livre. Só aquele que se decide e entrega completamente a Deus encontrou a verdadeira segurança e liberdade e, com isto, tudo o que é preciso para se realizar como pessoa e como filho do pai que está no céu.


Autoria deste texto:
Pequenas Irmãs de Maria, Mueria

2011-02-20

NÃO RESPONDER COM VIOLÊNCIA


Domingo VII - ano A


Depois de uma breve oração, lemos o texto pela primeira vez. As frases que nos tocaram foram: “sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” e “amai os vossos inimigos”. Voltamos a ler o texto pela segundo vez e depois dum silêncio partilhamos.

Só Deus nosso Pai é perfeito. Para nós a perfeição é um ideal. O mais que fazemos é ser justos uns com os outros. Sabemos que na realidade do povo é difícil tratar cada pessoa igual, especialmente os vientes, os que vêm de fora. Eles sofrem discriminação dos outros membros da comunidade e às vezes não podem integrar-se bem.

Nestes “novos” mandamentos de Jesus podemos lembrar o que ele disse no início, “Não vim revogá-los (a Lei e os Profetas), mas levá-los à perfeição” (Mt 5,17). Jesus estava devolvendo à Lei o seu sentido original, de conduzirmos ao encontro com Deus nos irmãos. Obviamente as Leis estavam provocando uma divisão ou até conflito nas comunidades do povo de Deus no tempo de Jesus. Quem obedecia a Lei era “puro” e quem não obedecia era “impuro”.

“Amar o teu próximo e odiar o teu inimigo” neste contexto era normal, até bom. Assim a pessoa identificava-se com o seu grupo. Era muito claro quem era o próximo: os da mesma família, mesma tribo, mesma raça. Os inimigos eram os de fora. Amar o próximo neste contexto foi uma boa medida para manter a solidariedade e comunhão dentro do grupo.

“Olho por olho e dente por dente” pode ser uma maneira de manter este equilíbrio dentro do grupo. A vontade de vingar uma ofensa pode levar o ofendido a exagerar e aumentar a violência. Esta lei pode servir muito bem para controlar a violência e criar um ambiente de respeito mútuo.

Jesus viu que isso não era suficiente para seguir a vontade do Pai. Criar um povo com relações de amor, de perdão e de paz não se faz num dia. Jesus tinha que mostrar um novo e mais profundo caminho. Ele mesmo praticou estes “novo mandamentos” até entregar a sua própria vida por nós.

E os primeiros cristãos que seguiram Jesus fizeram comunidades na base deste mesmo “novo mandamento” do amor. Podemos imaginar os conflitos que isso levantou com o outros judeus da mesma sinagoga. A hostilidade e até violência que os cristãos sofreram pelos seus próprios irmãos levou-os a pôr em prática o que Jesus ensinou. Eles não responderam ao mau com nem o menor nível de violência. Ao contrário, eles amavam os seus inimigos.

Isto é um exemplo de como manter uma verdadeira justiça dentro da comunidade. O seu amor pelos inimigos seguramente levou alguns destes mesmos inimigos a converter-se a Cristo e seguir como membros da comunidade.

Isto também, é uma maneira de viver a reconciliação. As diferenças de cultura, de nível social, de raça, etc. criam tensões.  O desejo de viver na unidade apesar da diversidade leva a procurar maneiras de reconciliar-se.

Vemos esta dificuldade na realidade das comunidades hoje. A rivalidade entre culturas, religiões, partidos, línguas, níveis sociais, etc. pode levar a actos de violência. A tentação de vingar é muito forte e pode levar o ofendido a responder com um nível de violência mais elevado.

Por outro lado, há uma característica do povo de perdoar os inimigos, especialmente quando o mau cometido é fora do sério. Quando alguém sofre um roubo, por exemplo uma mamã que perdeu todos os seus produtos da machamba por ladrões que chegaram de noite, podemos ouvir, “estou agradecido”. É uma maneira de reconhecer que somos pequenos nos olhos de Deus, que somos todos irmãos, que a justiça vem de Deus.

Como religiosos tentamos viver em comunidade e ser exemplo para a comunidade cristã. Não é fácil pôr em prática esta “novo lei” de Jesus. Amar com quem vivemos todos os dias nos pode levar a pensar se estas pessoas são os meus próximos ou meus inimigos. De qualquer maneira amamos com quem fazemos comunidade. Queremos viver a comunhão na diversidade.

Assim como Deus é uma comunidade perfeita de três pessoas distintas, nós também queremos seguir este caminho da perfeição.


autoria deste texto:
Missionários do Verbo Divino, Monapo

2011-02-12

SIMPLIFICA, CORTA, APROFUNDA, AMA


Domingo VI – ano A


Talvez possamos resumir as leituras deste domingo em três palavras apenas:

1. “Simplifica!”: Não é preciso fazer grandes estudos para compreendermos o que Deus nos quer dizer. Ou melhor, é preciso abdicarmos da sabedoria deste mundo, da sabedoria dos príncipes deste mundo, para nos tornarmos capazes de compreender a sabedoria de Deus (Cor. 1, 2). Todas as vírgulas e minúsculos acentos da lei judaica e todos os mandamentos da santa Igreja querem simplesmente tornar-nos mais próximos de Deus, do Deus da vida. E esta vida está ao nosso alcance, depende da nossa vontade (Sir. 15, 16). Só isso.

2. “Aprofunda!”: O pecado não é apenas o seu desfecho. É um processo, vai-se desenvolvendo aos poucos. Há que nos conhecermos em profundidade. Porque sabemos que a tentação se apresenta por vezes de uma maneira muito subtil… basta uma palavra ou um olhar inicial para nos lançarmos num caminho que levará à morte do irmão ou ao desmoronamento da nossa própria integridade e dignidade de filhos de Deus: “Eu, porém, digo-vos: quem chamar imbecil a seu irmão…” (Mt. 5, 22); “Eu, porém, digo-vos: todo aquele que olhar para uma mulher… (Mt. 5, 28)”

3. “Corta”: Se queremos aproximar-nos de Deus não o podemos fazer a meias. Temos que fazê-lo com toda a nossa vontade, com resolução e máxima definição. Não basta cumprir a lei. Devemos ser honestos connosco mesmos. Sim, Sim; não, não. A falta de resolução no compromisso com Deus e com a lei que ele inscreveu no mais íntimo do nosso coração, torna-nos tíbios, invertebrados. Quando Jesus nos diz que é preciso arrancar olhos e cortar braços (Mt. 5, 29-30) está a convidar-nos a sair da apatia e da moleza que tantas vezes tolhem a nossa capacidade de ir mais longe no Amor.

Por fim, uma última palavra, mais um imperativo: “Ama!”. Como toda a lei se resume no amor, que é o verdadeiro sacrifício que o Senhor realmente nos pede, podemos concluir com essa máxima: “ama, e faz o que quiseres!”


autoria deste texto:
missionários do Espírito Santo, Itoculo

2011-02-01

SAL: HUMILDE, FUNDIDO, SABOROSO

Domingo V - ano A

Dando seguimento ao evangelho do domingo anterior, hoje Jesus quer nos mostrar a identidade do seu discípulo. “Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se tornar insosso, com que o salgarão?... Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Também não se acende uma lâmpada para a pôr debaixo do alqueire, mas no candelabro para que ilumine todos os que estão na casa. Brilhe assim a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” Cf   (Mc 4,21; Lc 8, 16ss).

Aqui Jesus explica detalhadamente a identidade e o empenho do seu seguidor e quais são as obras que glorificarão Deus. Como o próprio Cristo, o seu discípulo deve ser sal da terra, luz do mundo e cidade visível no alto de um monte (lembremos aqui a cidade de Jerusalém, situada sobre o monte Sião). Estas três imagens convergem numa direcção: testemunho pessoal da vida cristã ao serviço dos outros.


E se falar do sal: ele é um elemento familiar em qualquer cultura usado para dar sabor à comida. Antes da era moderna ele era o único meio de preservar da corrupção os alimentos, particularmente a carne. Mas na cultura bíblica, o sal significa também sabedoria da vida, que consiste em conhecer e cumprir a vontade de Deus, expressa na sua lei. O cristão sendo o sal da terra, deve possuir a sabedoria de Cristo e o conhecimento do reino de Deus pela fé na palavra do evangelho.

O sal se torna então um símbolo importante para centrar a missão do discípulo de Cristo na sociedade em que vivemos. O sal por si mesmo tem um papel importante na arte culinária, ele se dissolve por completo nos alimentos e desaparece dando um sabor agradável. A sua presença discreta quase não é percebida; porém, a sua ausência não se pode dissimular. Essa é a sua condição: passar despercebido, mas actuando eficazmente.

Eis a obrigação do cristão: ser sal da terra, sal humilde, fundido, saboroso, que actua de dentro, que não se nota, mas que é indispensável. Feliz responsabilidade a nossa: descobrir o rosto autêntico e a face oculta de Deus, ser o sal e o sabor da vida, ser graça festiva, ser esperança e optimismo para o tédio e o aborrecimento da existência. Sublime tarefa do cristão: espalhar sem ostentação a riqueza de uma vida cristã interior fecunda e ao serviço dos outros. Assim cada um de nós deve perguntar-se como podemos hoje colaborar e em que medida temos de oferecer os talentos recebidos de Deus a um mundo que precisa desesperadamente das nossas “boas obras”, como o sal e a luz, para conhecer e bendizer a Deus, o Pai de todos que está no céu.

Não podemos perder o sabor e a luminosidade cristã diluindo-os em palavreado, ou em meras práticas piedosas. Se as pessoas virem a nossa fé religiosa e a nossa conduta para a fraternidade e o amor, reconhecer-nos-ão como portadores da luz de Cristo e glorificarão o Pai. Como o sal e a luz, a nossa fé e condição cristã não admitem meios-termos: ou transformam e iluminam a vida, ou não servem para nada.

Transforma, Senhor, as nossas trevas em luz                                                
A nossa noite em dia, para que irradiemos alegria e paz
Esperança e optimismo no meio do tédio da vida.

Que a tua palavra seja luz no nosso caminhar.
Ajuda-nos com a tua graça e transforma-nos com o teu Espírito
Para que não guardemos para nós o teu sal e a tua luz. Amem!

Autoria deste texto:
Irmãs Missionárias do Espírito Santo, Itoculo